segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vislumbres de Museus

Pedem-me para falar de museus. Mas se já passei por tantos, como falar deles? Devo falar de todos ou escolher apenas um? Falar dos museus da minha infância ou da minha idade adulta? Os portugueses ou os estrangeiros? Temáticos ou generalistas? Os que visitei ou os que quero ainda visitar? Pedem-me demasiado.
Por isso talvez fale daqueles pequenos detalhes que me ficaram na memória para sempre quando oiço a palavra museu. Como o deslumbre de menina no Museu dos Coches pela primeira vez. Afinal de contas eles existiam mesmo, não eram invenção dos contos de fadas. Infelizmente, nenhum deles se transformava em abóbora, mas, verdade seja dita, também não os vi depois da meia-noite, por isso nunca se sabe.
Ligado às minhas memórias da infância ficará para sempre o Museu do Traje. As visitas eram frequentes, talvez porque ficava perto de casa e porque os meus pais achavam que duas meninas certamente gostavam de ver roupa. E gostavam. E sonhavam em ter aquelas roupas para vestir as bonecas, copiavam para o papel os trajes e com eles vestiam bonecas de papel.
Assustadora foi a minha primeira visita à Torre de Belém. Disseram-me, já não me lembro quem, que aprisionavam pessoas lá em baixo e quando vinha a maré elas morriam afogadas. Não descansei enquanto não saí de lá e a única coisa de que me lembro é do medo de ali ficar presa também e ser levada pela maré.
Alargando os horizontes, a minha primeira visita ao Museu do Louvre ficou marcada pela desilusão. Afinal a Monalisa era pequenina e não era nada de especial. Especial mesmo era a quantidade inacreditável de japoneses e máquinas fotográficas à volta dela. Maravilhosas as salas dedicadas ao Antigo Egipto. Mais tarde, já adulta, revi essa desilusão e maravilha, desta vez com entrada fulgurante pela pirâmide, mesmo a tempo de escapar de uma violenta tempestade de Verão.
Se os museus nos surpreendem na infância, também isso sucede na idade adulta. Foi isso que me aconteceu no Museu dos Instrumentos Musicais em Bruxelas, onde descobri, num canto escondida, a oficina de construção de violinos de um personagem de um conto que tinha escrito. E não é que até tinha uma fotografia dele e tudo?
E se continuo a puxar pela minha memória certamente virão mais episódios, sentimentos, museus (eles são tantos!) e até contrariedades, como a antipatia dos funcionários da Neue Gallery em Nova Iorque por causa de uma simples garrafa de água. Mas essas memórias tristes não são para um dia como hoje, por isso fico-me por aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário