(a pedido da Rita Saldanha)
Olhou o bolo de aniversário carregado de velas, tantas quantos os anos que lhe passaram pelo corpo. Parecia que toda a superfície do bolo estava em chamas, aquela luz cortante a ferir-lhe os olhos, os gritos cantados a cortar-lhe os ouvidos.
Agora pede um desejo, avô, gritavam os miúdos todos os anos após a estridente e descontrolada cantoria que durava tempo demais tal como ele.
E todos os anos ele olhava aquele aglomerado de chamas pequeninas apertando-se umas contra as outras. Parecia que aquele bolo não acabava mais, ano após ano mais uma se lhes juntava e o bolo esticava, esticava. Até um dia, pensava, que rebente de vez.
O desejo, avô, insistiam.
O desejo era sempre o mesmo, desde os tempos em que naquele bolo apenas eram espetadas, à pressa, meia dúzia de velas tristes, já usadas de outros anos até se dissolverem na cobertura rala de chocolate.
Desde então o desejo era sempre o mesmo, apesar da saber que nunca se iria realizar. Mas desejava-o sempre, a mesma intensidade, a mesma força, ano após ano, vela após vela, até que o bolo se apague de vez.
Como fazer o tempo voltar atrás, interrogava-se. Era só isso que desejava, fazer o tempo voltar atrás para aquele dia em que tudo mudara. Como voltar atrás e ficar em vez de o deixar sozinho, tão pequenino que era?
Apagou as velas com o esforço da lembrança do irmão mais novo, ainda bebé, sozinho no chão, junto ao berço, corpinho sem vida, enquanto ele, alegre e esquecido, trepava alto a figueira do quintal até onde os seus sonhos iam, sem responsabilidades ou obrigações.
Apagou as velas como sempre, desde então, com as lágrimas do arrependimento.
Olhou o bolo de aniversário carregado de velas, tantas quantos os anos que lhe passaram pelo corpo. Parecia que toda a superfície do bolo estava em chamas, aquela luz cortante a ferir-lhe os olhos, os gritos cantados a cortar-lhe os ouvidos.
Agora pede um desejo, avô, gritavam os miúdos todos os anos após a estridente e descontrolada cantoria que durava tempo demais tal como ele.
E todos os anos ele olhava aquele aglomerado de chamas pequeninas apertando-se umas contra as outras. Parecia que aquele bolo não acabava mais, ano após ano mais uma se lhes juntava e o bolo esticava, esticava. Até um dia, pensava, que rebente de vez.
O desejo, avô, insistiam.
O desejo era sempre o mesmo, desde os tempos em que naquele bolo apenas eram espetadas, à pressa, meia dúzia de velas tristes, já usadas de outros anos até se dissolverem na cobertura rala de chocolate.
Desde então o desejo era sempre o mesmo, apesar da saber que nunca se iria realizar. Mas desejava-o sempre, a mesma intensidade, a mesma força, ano após ano, vela após vela, até que o bolo se apague de vez.
Como fazer o tempo voltar atrás, interrogava-se. Era só isso que desejava, fazer o tempo voltar atrás para aquele dia em que tudo mudara. Como voltar atrás e ficar em vez de o deixar sozinho, tão pequenino que era?
Apagou as velas com o esforço da lembrança do irmão mais novo, ainda bebé, sozinho no chão, junto ao berço, corpinho sem vida, enquanto ele, alegre e esquecido, trepava alto a figueira do quintal até onde os seus sonhos iam, sem responsabilidades ou obrigações.
Apagou as velas como sempre, desde então, com as lágrimas do arrependimento.
Susana Caldeira Cabaço
Obrigada Susana, pois eu sabia que adorava este texto, apesar de só o ter ouvido uma vez, há muito tempo. Agora tenho a certeza que é um texto maravilhoso. Parabéns a ti.
ResponderEliminarLINDO!
ResponderEliminar