Maria não gostava de tirar água do poço. Nunca vinha limpa.
As impurezas acumuladas no fundo turvavam-lhe o esforço de acreditar na pureza do beijo.
Como a água do poço, o beijo era frio.
Também ele turvo, sem que no entanto lhe conhecesse a razão da sua incerteza, escorria-lhe pela face sem que tivesse tempo de o sentir.
Seria o beijo limpo, puro e verdadeiro se não viesse do fundo do poço?
Não sabia.
Mas sabia que nunca iria saber a que sabe a água de um beijo que vem de cima, da água mais limpa, mas cristalina. Daquela água que se reflecte em nós e nos inunda de luz e certeza.
Maria não gostava de tirar água do poço.
A água do beijo vinha sempre do fundo. E no fundo do poço o beijo era seco.
Ana Alves Oliveira
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Gostei muito deste teu texto Aninhas...
ResponderEliminar"seria o beijo limpo, puro e verdadeiro se não viesse do fundo do poço?"
Não será a incerteza e a secreta esperança disso que o faz parecer limpo, puro e verdadeiro?