quarta-feira, 24 de março de 2010

Nas asas do vento

Ontem quase fui pássaro. No dia do equinócio.
Voei nas asas do vento.
Quieto, ele não queria. Estava talvez aborrecido com a igualdade do dia e da noite. Porque preferências todos nós temos. E vá-se lá saber que preferências o vento tem.
Sabe-se que dormiu até tarde talvez para não se misturar com a neblina opaca e parada, que só o sol viria a dissipar na secura do seu calor atrevido.
E foi então que o arredio vento, distraindo-se, saiu para namorar as ondas.
E eu voei. Como um pássaro. E rasei a falésia. E lá em baixo um manto verde de esmeraldas ali deixadas esquecidas gorgulejava a espuma branca com que retribuia o beijo ao vento na areia molhada.
Era o meu primeiro voo. Com uma asa que não era a minha. Nem do vento. Uma asa que se desenhava curvilínea na imensidão azul e que me salvava da gravidade com linhas quase invisíveis.
O ar foi momentaneamente meu. O azul perdeu os limites e um lago imenso ofereceu-se malévolo e cândido. Ocupou-me por inteiro a emoção da vez primeira, plena de borboletas virgens.

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