quinta-feira, 18 de março de 2010

Violeta

Tirou o fato do armário, impecavelmente passado. Da cómoda, a camisa dobrada. Escolheu a gravata. Escura, talvez fosse o mais apropriado.
Depois, foi até ao corredor. Tirou o quadro dos lilazes da parede e pousou-os no chão.

Três zero zero três.

Fora ao terceiro dia do terceiro mês que a conhecera. Passara por ele, alta, esbelta. Nem o olhou. Foi o suficiente para o coração dele sucumbir à sua beleza.
Abriu o cofre. De dentro da caixa em veludo azul escuro, poído pelo tempo, tirou os botões de punho. Um par de flores concêntricas de brilhantes de primeira água que havia adornado os lóbulos imaculados de sua bisavó no dia do seu baile de debute. Fora em Sevilha, onde havia séculos a família paterna instituíra como cabeça de morgado a magnífica villa com o seu refrigerado páteo andaluz. A ebúrnea mantilha não realçava o nacarado de qualquer conjunto de pérolas.
Levou-os para o quarto, depois de colocar os lilazes na parede verde.
Na cómoda onde os pousou, um envelope com um único nome. Violeta. Levou o revólver ao peito e matou o coração. Nesse instante, em que golfadas de carmim espirravam a colcha alva, começou a viver.


Pedro Diniz
18/03/2010

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